segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Prefaciando prefaciadores.


Certos prefácios de livros são tão engraçados na medida exata em que são incompreensíveis. Por exemplo, há uma grande tendência em ser obscuro e enigmático ao se analisar o autor prefaciado. Se o autor for difícil de ler, o prefaciador deverá ser difícil ao quadrado! Quando não, para ser o mais exótico e antenado possível, cita-se um autor que ninguém conhece, que é complexo e pós-moderno (ou obscuro e maldito no pensamento hegemônico), pra iniciar a análise sobre o autor prefaciado. Eu, se um dia escrever um livro, quero que meu prefaciador comece assim:
“Como considera Songtsen Wangchuck, para o caso dos poetas da escola de Dniestre, a poesia moderna supera a condição do conteúdo, na medida em que a forma informa certo conformismo desinformante sobre a condição imanente do poeta (que ao poetizar induz ao erro exatamente por acertar!); deformando qualquer conteúdo. O poeta está não estando, estandardizando (ou escandalizando, quem sabe?) a imagética de seu próprio grito mudo! Ao colocar no papel (ou no ciberespaço, cósmico, êmico, ético, ou pôr o pó-ético da poesia?) um grito mudo, do não dito, nem escrito, nem muito menos pensado, faz o poeta um esforço numinoso do ser o não ser de si mesmo, revertendo e, quem sabe, reverberando a hipérbole (a hipotenusa, o catete do octógono semântico – que me perdoem Nietzsche, Foucault e o incompreendido Paulo Coelho [Paulo Coelho morreu?! – Viva Paulo Coelho!!]) da danação da arte! Assim é (em não sendo) o poeta nessa sua nova condição de canto da sereia desacompanhado de “pastilhas Valda” da condição do ser, ou cera do ouvido de Ulisses em frente do não lugar da viagem! Ora, quem não viaja é por que ficou, já o disse Joyce... Pois assim também é a poesia de T...”
Vai ficar tão legal!                             
Vai ficar tão legal que na segunda edição de meu suposto livro, vou publicar apenas o prefácio! Ou quem sabe, ainda, vou me dedicar a prefaciar prefaciadores!
E tenho dito!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


O espírito de natal da coca-cola é engraçado. No comercial que tá passado na TV aparece um Papai Noel que surge na casa de pessoas anônimas dizendo que há 35 ou mais estas pessoas mandaram cartas de natal. Daí o Papai Noel dá um presentinho pra pessoa e vai embora.
Bom aqui no Brasil, nas proximidades do Natal, milhares e milhares de crianças mandam cartas para o Correio. As cartas ficam lá, a espera de um bom coração para serem atendidas. Quem quiser ver é só ir na Agencia Central do Correio e perguntar por isso.
Essa propaganda da Coca-Cola é bem a cara do consumismo do Natal: oportunista, ocasional, aleatório, mercadológico, materialista. As nossas crianças (pobres e ricas) foram inculcadas a ganhar presentes materiais no Natal.
O problema é que isso, além de esvaziar o significado da data, leva a frustrações das crianças que não tem recursos, endividamentos de pobres, felicidade dos ricos e lucro para as fábricas de refrigerantes e similares.
Fora isso - tirando as 3 pessoas que apareceram no comercial da Coca-cola e receberam um presentinho da empresa multimilionária e mundial - a grande maioria das crianças que mandam cartas ainda vai ficar esperando anos e anos... Ou quem sabe daqui a 35 anos o Papai Noel garoto propaganda, vai aparecer lá num barraco qualquer de uma favela pra dar a um trabalhador cansado o seu presente pedido há décadas atrás!
Bom, mas pra quem acredita em Papai Noel, por que não poderia sonhar também com loterias?!

E feliz Natal!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Morrer de repente,
sem sentir, sem perceber!
É, ainda, a mais sofisticada forma de morrer!

A morte.
Um de meus temas preferidos, em vida.
Mas prometo, que quando morrer, não rabiscarei nem mais uma magrela linha de um poema sobre isso!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Três xícaras alegres


Três xícaras alegres
rodopiam com o restinho de café
tomado à hora passada.
As xícaras são inanimadas só para quem não as veem dançarem alegremente.
Três xícaras de café lado a lado, ladeando-se,
numa fila indiana de xícaras de café do Brasil.
Elas dançam serelepes esperando a reação dos circunstantes,
esperançosas de serem tomadas por líquido quente.
As xícaras sabem que na verdade não as usamos,
são elas que se untam de café, usando a vontade da gente.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Agora o tema do facebook é a redução da maioridade penal



Pois vejamos:
Mandar filho de pobre, quase todos negros, quase todos índios e mestiços pra cadeia é fácil! Difícil é discutir e exigir investimento em creches para crianças, para que pais e mães trabalhador@s possam deixá-los em ambiente de segurança ao irem ao trabalho. Difícil é discutir e exigir educação de qualidade, com escolas que atendam em tempo integral crianças e adolescentes de bairros pobres. Ou exigir espaços para esporte, clubes, lazer, música, teatro, praças, parques, etc. que atendam crianças e jovens de bairros carentes, dando alternativa a quem tem apenas a “esquina”, a “quebrada” e a “malandragem” como modelo a ser seguido...
Ora, não existe uma cultura de paz sem uma estrutura social de paz. A cultura de paz não é como o “espírito santo” que baixa nas pessoas como por milagre. Não dá pra fazer uma CULTURA de paz se o meio ao redor das pessoas não tem uma INFRAESTRUTURA de paz. Isso é ausência de entendimento da totalidade social! Se a criança vive num meio social cercado de necessidades materiais e espirituais, no qual o seu modelo mais próximo de rebeldia é o garoto que fica na esquina armado ou vendendo drogas, é certo que boa parte dessas crianças talvez siga por esse caminho, ao chegar na adolescência. Ser rebelde na “Malhação” é muito bonitinho. Rebeldezinho de iphone, em boas escolas, passeando pelas praias de Copacabana é bonito de ver! Mas o adolescente real, de carne e osso, é o da maioria da população que não tem esse modelo a seguir na fase mais complicada de sua vida, um momento de indefinição e construção de identidade: a adolescência!
Qual é o espaço que a maioria dos adolescentes do Brasil têm?! Eles têm uma infraestrutura que possibilite viver em uma cultura de paz?
Mas pra que tudo isso, né? Escola e arte pra filho de pobre?? Pobre e filho de pobre, quase todos pretos e quase todos índios e mestiços, têm mesmo é que trabalhar, não é?! Têm que virar mão de obra. Um dos discursos que mais vemos nos telejornais é a ideia de que as pessoas têm que se qualificar para o mercado de trabalho. Pra que “arte” se temos a “técnica”?!! Se o cidadão não se adapta ao mercado, não entra na engrenagem, não serve pro sistema; e se virar rebelde de periferia, manda pro xelindró que resolve! Pra que gasto do dinheiro público com esse bando de “marginaizinhos protegido pela lei”, não é???!
Essa é a lógica da redução da idade penal. É o velho e tradicional método burguês de resolver o problema pelas consequências e não pelas causas. Reduzir a maioridade penal significa nivelar por “baixo”, ou seja, eliminar fisicamente (ou pelo menos excluir do convívio social) o adolescente pobre e excluído. Significa jogar a “sujeira” pra baixo do tapete. Bem ao modo da elite brasileira e daqueles que mesmo não sendo elite comungam com seus valores, mesmo sem saber! É mais fácil resolver eliminando o problema (pessoas no caso!) do que resolver mudando a condições que fizeram surgir o problema!
Que tal a gente sair da obviedade e refletir mais sobre esse tema?

Sugestões para debate:

Crianças pobres já têm maioridade penal

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Pequena história urbana – baseada em fatos reais?


O cidadão ia andando tranquila e distraidamente pela Avenida Nazaré, centro de Belém, e foi abordado por dois meliantes, aparentemente menores de idade.  Mesmo sem reagir levou uma coronhada e teve seus bens pessoais roubados com violência!
Infelizmente a polícia não estava próxima para prender os bandidos. E mesmo se tivesse, provavelmente não poderia fazer muito, pois os menores são protegidos pela lei em nosso país.
Descrição dos bandidos:
Meliante 1: cerca de 12 anos de idade, pele muito branca, loiro e de olhos claros, naturais, verdes ou azuis. Cerca de 1, 70 de altura e vestido com tênis Nike, calça Zoomp jeans e camisa de um colégio daquela redondeza.
Meliante 2: cerca de 14 ou 15 anos de idade, pele branca, cabelo bastante claro, loiro natural, olhos verdes. Cerca de 1, 60 de altura e trajando tênis Adidas, calça da Forum e camisa Colcci ou algo parecido! Carregava uma mochila de marca e uma iphone 4 ou 5.
Notícias sobre estes criminosos, avisem a polícia!
Fim!
Gostaria de saber de meus amig@s leitor@s o que acharam de meu microconto e se há verossimilhança nele, e ainda, caso não haja, por que?

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O falso assovio da Matinta Pereira.


Tô vendo muita gente falando que hoje é o dia da Mantinta Pereira e não halloween. Não tenho nada contra, inclusive concordo com isso!! Mas é bom lembrar que na hora de se posicionar politicamente em torno de projetos políticos populares (permeados de contradições, como tudo!), ou pelo menos na hora de se posicionar CONTRA projetos políticos conhecidamente antipopulares, nem todo mundo se manifesta! É aquela velha história: “povo bom” é o povo folclorizado, aquele que é bonitinho nas suas “tradições, lendas e mitos”, mas com o qual poucos querem se misturar no dia a dia, na vida cotidiana, na vida da cidade, nos ônibus, nas ruas, etc. Muitas Matintas Pereiras vão ficar 4 anos a ver falsos assovios em Belém do Pará. Muitos mestres da cultura popular vão continuar nos Guamares, Jurunas, Terras Firmes da vida sendo homenageados apenas no seu pós-morte, nos museus! Muitos meninos e meninas, Sacis Pererês e Curupiras, vão continuar ouvindo o assovio do tráfico de drogas, da ausência de escolas e da ausência do direito à brincadeira e ao lazer, na periferia de Belém. Matinta Pereira nos salve que lhe dou tabaco! Fioooote Mantiiiiinta Pereeeeeeira!


terça-feira, 30 de outubro de 2012



Ensimesmar-se,
encasulando-se!
Outroficar-se!


Felizes os que viveram em tempos extraordinários, pois a maior parte das pessoas passa a vida na mais perfeita e aprisionadora normalidade!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Edmilson Rodrigues, por uma Belém nas Mãos do Povo


Edmilson Rodrigues, por uma Belém nas Mãos do Povo

Moradores do Tucunduba, da Vila da Barca, da Terra Firme, do Guamá, Jurunas, bairros e ruas que antes nunca tinham conhecido o que era saneamento básico ou asfalto... votam em Edmilson!

Quem depende e usa o segundo pronto socorro da cidade, feito no Guamá, depois de décadas e décadas de existência de um único pronto socorro na 14 de Março... vota no Edmilson!

Quem usou a primeira ciclovia da cidade, feita na Almirante Barroso, que garantia segurança para milhares de trabalhadores que dependiam de bicicletas para chegar ao trabalho ou em casa... vota no Edmilson!

Quem já usou ou teve familiares que usaram a Casa do Idoso (primeira especializada em cuidados médicos para a terceira idade)... vota no Edmilson!

Quem já usou, ou teve amigos ou familiares que usaram, as Casas Mentais (primeiras unidades municipais especializadas em tratamento de saúde mental)... vota no Edmilson!

Quem já usou o Saúde da Família, que atuava principalmente na periferia da cidade e levava médicos e remédios na casa das pessoas mais necessitadas... vota no Edmilson!

Quem decidiu onde parte do orçamento municipal seria utilizado, pelo voto de delegados eleitos pelas comunidades, nas assembleias populares do Orçamento Participativo e do Congresso da Cidade... vota no Edmilson!

Quem viu crianças do Aurá serem retiradas do lixão e das ruas e serem colocadas em projetos como o Escola Circo e Sementes do Amanhã (crianças que depois foram abandonadas pela atual administração e retornaram para o lixão e para a rua!!).... vota no Edmilson!

[tais projetos deram ao Edmilson por vários vezes prêmios internacionais, de organizações do peso da UNESCO! - se você acha que Belém como "Cidade Criança" é papo furado, as crianças atendidas por aqueles projetos não pensam assim!]

Quem viu praças que eram verdadeiras favelas e área de assaltos se tornarem áreas de lazer, como no caso da Praça do Operário, da Praça da Cremação, etc.... vota no Edmison.

Quem viu novos centros culturais e turísticos surgirem, como o Ver-O-Rio, o Memorial dos Povos, etc... Vota no Edmilson!

Quem conheceu a Nova Orla de Icoaraci reformada e com novo paisagismo, com detalhes e fotos que rememoravam a história de Belém e da Vila Sorriso, e que atendia tanto a população local como os turistas... Vota no Edmilson!

Quem conheceu o Ver-O-Peso, antes, e o viu como um verdadeiro caos, abandonado, cheio de ratos, sujo, etc. e viu ele se tornar um verdadeiro patrimônio histórico e cultural da cidade (hoje novamente abandonado pelo Duciomar!)... vota no Edmilson!

Quem presenciou a reforma de vários monumentos e prédios históricos da cidade como o Mercado de São Braz, o Ver-O-Peso, do Solar da Beira, reforma do Palacete Bolonha, reforma do Forno Crematório, reforma do Chalé Tavares Cardoso, e tantos outros... vota em Edmilson Rodrigues!

Quem presenciou a construção de espaços para a cultura paraense e belenense como da Aldeia Cabana de Cultura Cabana (Sambódrono da Pedreira), o Espaço Cultural Altino Pimenta (na Doca), o Espaço Cultural Mestre 70 e outros... vota em Edmilson Rodrigues!

Quem já foi atendido pelo Banco do Povo e teve financiamento barato para micro-empreendimentos que geraram emprego e renda para os trabalhadores... vota no Edmilson!

Quem pela primeira vez viu ônibus 24 horas na cidade, novas linhas de ônibus para bairro distantes (com a quebra de monopólios de poderosas empresas da cidade!), os primeiros ônibus adaptadas a pessoas com necessidades especiais a circular na cidade, a passagem mais barata do Brasil, e até poesia nos vidros dos coletivos urbanos... Vota em Edmilson!

Quem dançou e se divertiu na Seresta do Carmo – retomadas com Edmilson -; na Bienal Internacional de Música, que além de premiar artistas locais, trazia grandes nomes da música mundial, como o grupo colombiano Nuevas Estampas, o grupo guiano Star, o grupo caribenho Martinica, músicos do famoso clube cubano Buena Vista Social Club; além, de grandes nomes da música brasileira como Gilberto Gil, Chico César, Zeca Baleiro, etc.... Quem presenciou o renascimento das artes em Belém... vota em Edmilson!
Agora quem vota pensando no seu próprio umbigo ou vota por interesses escusos, contra a cidade, vai amarelar, vai votar nulo ou votar contra os interesses de Belém!!

A escolha é sua! O que você quer pra Belém!????

Pelos que mais necessitam, só há uma escolha para Belém, Edmilson Rodrigues 50!!


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Deus e os bajuladores!


Teoricamente deus (ou Deus) deu cérebro e livre arbítrio para as pessoas, e disse “faz por ti que te ajudarei” (ou algo do tipo)! Sendo assim viver “prostrado”, bajulando, subserviente, obediente, sem questionar por si só (ou inspirado em Deus, que seja!) o que fala aquele tipo de pastor que só fica mais rico com o seu dízimo (com se a salvação fosse a riqueza na terra) ou aquele tipo de padre que dá o pão ao pobre, mas não questiona porque o pobre não tem pão, etc.... Tudo isso não é fé não... Creio que seja alienação, ou em termos religiosos (religare), muita falta de valor ao que seria, supostamente, a maior obra de deus (ou Deus): a mulher e o homem!

Quem acredita em Deus e não acredita no ser humano como ser ativo e crítico (e não passivo e bajulador!), esqueceu aquela parte que diz "feito à sua imagem e semelhança". Não esqueceu não?

Porém o pior de tudo é que há parte desses tipos de “pastores” (em sentido geral) que tem por profissão formar bajuladores e além de tudo vivem das bajulações (ou dízimos) dos outros. São aqueles que vivem da fé alheia, e não só da fé, mas da redução das pessoas a meros pedintes, mendigos que subservientemente pedem migalhas a fim de curar coisas do seu cotidiano infeliz!

Reduzir o homem e a mulher à condição de seres degradados e degradantes, e ainda por cima viver e enriquecer disso, é roubar a essência da suposta obra de deus (ou Deus), e, consequentemente, é ir contra o próprio criador (que supostamente fez as suas criaturas tal qual sua imagem e semelhança!).

Obs.: refiro-me aqui às vertentes hegemônicas das grandes religiões do ocidente de hoje: catolicismo e, em particular, as vertentes neo-pentecostais do cristianismo protestante. Deixo claro que se estou falando das vertentes hegemônicas, é obvio que existem exceções a este estado de coisas!


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Considerações intempestivas sobre as vantagens da morte

Em verdade a morte é o grande dia da vida de qualquer pessoa, já que em geral todos os seus erros são perdoados e se ele for uma pessoa pública ou conhecida na sua redondeza vão aparecer depoimentos e depoimentos dizendo que ele foi um bom homem ou uma boa mulher.

De fato, até os inimigos nessas horas costumam chorar sobre o caixão do antigo adversário e proferem discursos voltairianos do tipo: “Não concordo com uma palavra do que dizias, mas defenderia até o último instante seu direito de dizê-la, caso você estivesse vivo. Porém, tendo em vista que você está morto, tanto faz como tanto fez!” (obviamente que essa última parte é falada em silêncio, para que os familiares não percebam!).

Esses depoimentos são apenas uma das vantagens de se estar morto. Outras ainda podem ser citadas. Pois vejamos:

O café! Velório que é bom tem que ter café! E muito café! E baralho também. Na verdade o café acompanha o baralho da mesma forma que as velas acompanham o morto. Sobretudo nos velórios populares que já participei, o baralho é quase tão importante quanto o defunto, e quanto o café. Diria até que muitos jogadores de baralho esperam ansiosamente o vizinho moribundo morrer para garantir pelo menos uma noite inteirinha dedicado ao seu jogo preferido (sem que a sociedade o condene como viciado e vagabundo). Deve-se considerar ainda que a economia de café nas casas da vizinhança do defunto é muito grande nessas 24 horas de velório, o que contribui sobremaneira para o bem estar social!

O piadista é outra coisa que não pode faltar. O piadista é o cara que mesmo estando sofrendo com a morte do defunto, tem o altruísmo de falar coisas engraçadas (às vezes até as peripécias do defunto em vida!). O piadista, poucos sabem, tem um grande papel em nossa sociedade e na vida dos mortos, ou, melhor dizendo, na hora da passagem dessa pra melhor. Ele é um elemento ambivalente, uma espécie de palhaço trágico, que garante que mesmo na hora do sofrimento os entes queridos do defunto consigam rir um pouco, lembrar dos bons momentos da vida com o defunto, e até, quem saber, chegar à conclusão de que na verdade o dito cujo já vai mesmo é muito tarde (isso apenas em casos mais extremos, obviamente!)!

Antigamente também era comum a presença de mulheres carpideiras, que iam pra chorar sobre o caixão do morto. Era muito romântico, mas parece que ficou como uma coisa do passado! Em alguns casos temos também a presença do próprio morto avisando aos entes queridos de que morreu. É o famoso fantasma da alma recém-desencarnada! (aproveito esse espaço e aviso desde já que não farei essa sacanagem com meus amigos e familiares. Ao morrer, caso eu não desapareça por completo, prometo não puxar o pé de ninguém à noite e nem me manifestar como alma penada. Qualquer aviso que tenha pra dar, deixo por escrito aqui neste blog para conhecimento público, antes de morrer).  

É importante considerar ainda que o cidadão em desacordo com a condição de vivo, vulgarmente conhecido como defunto, tem direitos inalienáveis que devem ser garantidos! Falta-nos ainda uma declaração universal dos direitos dos homens e mulheres mortos, mas de certo que entre os direitos e deveres do defunto então a existência de um caixão, um buraco na terra pra ser enterrado, direito a não ser comido (a não ser em casos de acidentes de avião em regiões isoladas e geladas do globo e se forem europeus invasores de terras indo-americanas!), direito a feder, mesmo depois de tomar o último banho, e a apodrecer!

Mas, caros leitores, a essa altura do campeonato vocês devem estar se perguntando por que estou falando de tudo isso? Ocorre que hoje de manhã acordei com a seguinte frase na cabeça: “a morte é em verdade o grande momento da vida de qualquer pessoa!”.

Isso porque além de todas essas sociabilidades que já falei acima, a morte é também a grande chance para, caso exista céu, irmos ao encontro do onipotente, oniciente e onipresente! E caso não exista céu vamos simplesmente deixar de existir.

Ora meus caros, o que a maior parte das pessoas não percebeu ainda é que deixar de existir não é propriamente uma coisa má. Na verdade não é também uma coisa boa. Na verdade não é nada! A não existência não tem cheiro nem sabor, não dói nem dá prazer, não é audível nem é silenciosa, nem quente nem fria, nem doce nem amarga, nem azeda nem salgada, nem chuva nem sol, nem inverno nem verão.

A não existência é simplesmente o que ela não é, ou seja, não é, é nada, em sendo um não ser, o não existir, nada faz ou desfaz, somente é o seu não ser, o que nem sequer se pode definir!

Neste sentido, morrer do ponto de vista da sociedade que cerca o indivíduo morto é um bom negócio, por todas as benesses que já expus (piadistas, elogios ao defunto; sem contar outros temas como o crescimento da economia de caixões e flores, a possibilidade do viúvo ou viúva trocarem de cônjuge, etc.).

E do ponto de vista do morto, ele terá as possibilidades de ir para o céu ou simplesmente deixar de existir.

Não coloquei a categoria inferno ou diabo de chifres e tridente nesse debate, pois acho que esse papo de inferno é contemporaneamente uma invenção de Edir Macedo e Cia. E não vou dar ibope pra esse tipo de gente que dá mais moral para o diabo do que pra Deus! Sem contar que se deus existir mesmo, e se for um cara maneiro, ele vai chegar à conclusão de que foi ele quem colocou a gente nessa enrascada toda, e agirá com justiça e perdoará todo mundo para garantir a paz celestial eterna no paraíso. Bom, mas isso caso deus exista! Eu, de minha parte, ainda sou adepto da tese de que depois que a gente morre viramos “nada” mesmo!

Então meus caros, tendo em vista o exposto, diria que morrer não é tão ruim assim. E defendo a tese de que morrer é o momento mais importante da vida de qualquer cidadão! O que dá a nós, seres vivos, a grande vantagem de um dia deixarmos de existir, em superioridade às pedras, por exemplo, que estão condenadas à eterna existência, em decorrência da ausência da morte!

Essa é, portanto, mais uma vantagem que nós temos, e não uma desvantagem, como pode parecer à primeira vista.

Então, se você é como eu, uma daquelas pessoas que vai morrer algum dia, lhe desejo que aproveite a sua morte da melhor forma possível, pois que eu saiba ela só acontece uma vez na vida, digo, na morte, e por isso mesmo tem que ser valorizada!

Sem mais, nos encontramos por aqui. A não ser que eu, ou um de vocês, morra!

Amém, pra quem é de amém; sarava pra quem é de sarava!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Morreu Mestre Cupijó! Viva Cupijó!


Aviso: Esse texto é uma parte do terceiro capítulo de minha dissertação que tratou da música em Belém nos anos 1960-1970. Esse fragmento fala de Cupijó. Caso alguém se interesse, a dissertação completa esta aqui: http://www.ufpa.br/pphist/images/dissertacoes/2008/2008_tony_leao.pdf
As notas são originais, qualquer dúvida sobre as fontes citadas basta procura-las na bibliografia da dissertação.

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Um terceiro “mestre” importante neste período [anos 1970], não necessariamente do carimbó, mas do siriá, foi Joaquim Dias de Castro, ou simplesmente mestre Cupijó, como ficou conhecido. Segundo o que consta, o nome Cupijó surgiu em sua infância no município de Cametá, na região do baixo Tocantins. Como era um garoto doente até certa idade e não podia consumir comidas sólidas, vivia a reclamar para seus pais dizendo que iria fugir para o rio Cupijó, caso não lhe dessem a alimentação que queria. Resultado disso foi que a sua família acabou o apelidando pelo nome do rio que ele dizia que iria fugir. Surgia assim o nome pelo qual ele ficou conhecido desde o início de sua carreira [i].
Cupijó também vinha de uma família ligada à música. Ele era filho de Vicente Serão de Castro, figura importantíssima da música do município de Cametá. Seu pai nasceu em 1891 e foi remanescente do apogeu daquela cidade tocantina na época do intendente Heitor de Mendonça. Vicente Serrão de Castro foi regente da tradicional Banda de Música Euterpe Cametaense, e mestre-capela e regente do Coro Lira Angélica. Foi autor de vasta obra, em que constavam valsas, serenatas, quadrilhas, dobrados e música sacra [ii].
Graças a isso Cupijó teve contato muito cedo com a música. Seu primeiro instrumento foi o surdo, depois o prato, mas desde muito novo aprendeu segundo a leitura de partitura. Mais tarde aprendeu a tocar banjo, bateria, clarinete e violão. Tocou na Banda Euterpe Cametaense, a mesma que foi dirigida por seu pai. Sua estréia como músico se deu tocando bateria em um conjunto de propriedade de seu pai, o “Ases do Ritmo”, em um baile de fim de ano, em 1960 [iii].
Em 1961 passou a dirigir a Banda Euterpe, já que seu pai havia falecido, e também passou a atuar definitivamente no “Ases do Ritmo” nos aos 70. Além disso, dedicou-se a ensinar música gratuitamente, tendo uma escola de música em sua casa. Também dirigiu por certo período o coral da Matriz da Prelazia de Cametá.
Em 1973 lança o siriá em LP pela primeira vez, ao mesmo tempo em que o carimbó estourava no mercado regional. Em 1975 já chegava com o siriá a várias áreas do Brasil. Nesta época, seu terceiro disco, “Mestre Cupijó e seu ritmo”, foi gravado pela gravadora Continental.
Mesmo no período de maior divulgação do siriá, Cupijó dizia preferir o sossego de sua cidade interiorana. Não gostava muito de ir a Belém e a outras cidades maiores, só o fazia devido às necessidades inerentes à sua carreira. Essa badalação da cidade grande estava ligada também à badalação dos ritmos da moda. Neste sentido ele dizia que preferia o siriá “autêntico”, que ajudou a difundir. Falava ainda que talvez mais adiante começasse a ocorre com o siriá o mesmo que estava ocorrendo com o carimbó. Reclamava que o interesse dos mais “espertos” na busca do lucro estava se sobrepondo ao interesse da “autenticidade”. É importante observar que Cupijó se dizia um artista da música folclórica e não da música popular. Arrematava: “hoje o siriá é mais verdadeiro porque é menos sofisticado”[iv]. Cupijó se dizia um divulgador do folclore paraense, uma pessoa ligada por vivência a esse folclore: “Moro no interior, vivo, danço, conheço, bato tambor, toco, pino (...) sei a linguagem do homem do interior, converso com ele e vivo minha vida como um homem do interior”[v]. Daí que tinha forte aversão aos músicos da capital que tendiam a ir ao interior para conhecer as músicas daquela população com os seus gravadores na mão e depois gravavam como se fossem suas. “E não há nenhuma providência sobre esse comportamento. O Folclore deve ser visto como cultura do povo, anônimo”[vi] - concluía a este respeito.
É interessante observar que esse tipo de reclamação não foi exclusividade de Cupijó. A ida de músicos da cidade aos pequenos municípios e áreas rurais em busca da coleta do carimbó parecia ser um fato rotineiro neste momento. E isso acabava levando expectativas de ganhos financeiros e reconhecimento por parte dos tradicionais criadores, que após algum tempo não viam o resultado de seu trabalho aparecer. Com o passar dos anos, muitos compositores de carimbó começaram a se recusar a dar entrevistas ou a cantar suas músicas a pessoas que chegavam com gravadores ou câmeras de TV. A desconfiança se dava, pois para os criadores interioranos a presença destes “pesquisadores” poderia significar por um lado o registro acadêmico ou folclórico do carimbó, mas, na maior parte das vezes, significava a simples coleta para gerar gravações de discos onde as músicas apareceriam depois como de “domínio público”. Para o criador que acabava criando expectativas de algum ganho econômico ficava a decepção e desconfiança com qualquer um que viesse da cidade grande em busca de conhecer e registrar o carimbó [vii].
Cupijó ficou conhecido como o principal divulgador do siriá, música aparentemente originária do município de Cametá. Segundo a interpretação de alguns antigos moradores de Cametá entendidos no assunto, o siriá seria na verdade uma espécie de batuque aparentado com o carimbó. Para Mario Martins[viii], que era uma espécie de pesquisador da música cametaense, o nome siriá teria na sua origem o termo cereal, que com o passar do tempo ficou sendo conhecido pela população da cidade como a corruptela siriá. Seria uma criação tipicamente da cidade de Cametá. Para outros, a palavra síria tinha origem no local onde os escravos de Cametá pescavam o siri. Assim como teria ocorrido com palavras como “canaviá”, originária de canavial, e “arrozá”, de arrozal, teria surgido uma palavra, siriá, para referir-se ao local de pesca do siri, num processo de corrupção da palavra junto às comunidades pobres [ix].
Do ponto de vista musical, o siriá tinha proximidade com outras manifestações folclóricas como o marabaixo de Macapá[x] e mesmo o carimbó. Na opinião de Cupijó, a diferença maior entre carimbó e siriá estava relacionada à maneira como se dançavam cada ritmo, já que o siriá veio principalmente do roçado, do mutirão, sendo uma dança para grandes espaços, onde os movimentos de corpo acompanham a letra da música. Esse trabalho corporal de que falava Cupijó era conhecido em Cametá como “caianas”[xi]. Outras diferenças ainda segundo Cupijó seriam derivadas de uma maneira especial de tocar o curimbó - tambor - no siriá. Nele o tocador que está em cima do instrumento faz um movimento de calcanhar, ou mesmo de ponta de pé, sobre o couro, em sua parte inferior, abaixo de onde as suas mãos estão funcionando como baquetas, esfregando-o. Este movimento modifica a afinação do instrumento na hora de tocá-lo. Por fim, no mesmo tambor, que chega a ter até 2 metros de comprimentos, em que um tocador bate no couro com a mão em uma das extremidades, há uma segunda pessoa que batuca na madeira do tambor com pequenas baquetas de madeira rija, acompanhando o som que sai do couro[xii]. Para Cupijó, essas seriam as principais diferenças, mas como vimos acima isso ocorre também no carimbó, como por exemplo naquele feito por Verequete. O certo é que carimbó e siriá surgem e se tornam populares ao mesmo tempo, em um mesmo processo de valorização das músicas populares do interior.
Em junho de 1971, no jornal “Cametá”, José de Assunção elogiava o prefeito da cidade por colocar o Siriá nas festividades oficiais. Dizia que até aquele momento o siriá era uma música que existia apenas na parte profana e não oficial das festividades municipais, sobretudo nas zonas rurais. Não era tocado para a “sociedade” do município, apesar de sua longa existência que remontava ao período colonial, provavelmente de criação negra e indígena. Falava ainda que já era tocado com os “jazz”[xiii] nos “salões sociais”, mas que mantinha contudo suas características originais[xiv]. No mesmo período em que o carimbó começava a ganhar espaço em Belém, ocorria um processo parecido em Cametá com o siriá.
Em Cametá, o carimbó e o siriá no início de sua popularização eram tocados apenas no final das festas. Mas no momento máximo de sua difusão, o grupo de Cupijó chegava a tocar em 10 municípios do estado em um curto período de tempo. Apesar disso, os músicos do grupo nunca deixaram seus empregos, já que mesmo com tantos shows, diziam não ser possível viver de música por volta de 1973 [xv].
Em Belém, o siriá de Cupijó, assim como ocorreu com Pinduca, apareceu e conquistou espaço primeiramente nos clubes de subúrbio, como o Imperial e o Satélite, por exemplo. O Siriá aparece em Belém mais ou menos no mesmo período que o carimbó. No início dos anos 70 já se comentavam sobre esse novo gênero musical que vinha do interior do estado, mais particularmente do município de Cametá. Contudo, a postura de parte da intelectualidade e juventude em Belém será diferenciada em relação a Cupijó. Pinduca era visto por parte destes setores como uma espécie de deturpador do carimbó, por ter colocado em seu conjunto instrumentos modernos, como guitarra e baixo elétrico, e bateria. Já a visão sobre Cupijó foi outra, bastante boa desde o início, pelo menos é o que podemos perceber em um artigo escrito por Paes Loureiro no jornal Folha do Norte em 1973 [xvi].
Neste texto, Paes Loureiro reconhece em primeiro lugar a longevidade do siriá que lutou para sobreviver “durante longo anonimato”. Reconhece também o município de Cametá como uma cidade culturalmente muito importante na região, por ser “o manso território onde lutam contra o tempo e a indiferença, as últimas verdadeiras manifestações de nossa tradição popular”[xvii]. Mas o que fica fortemente visível em seu texto é a importância singular atribuída ao “Mestre Cupijó”, que aparece quase como um herói defensor da cultura e do povo da região. Aliás, de fato torna-se um herói no discurso Paes Loureiro já que é comparado a Pedro Teixeira, que realizou a fantástica aventura de navegar o Rio Amazonas em sua totalidade entre os anos de 1637 e 1638 [xviii], e também é relacionado à cabanagem que teve em Cametá um ponto de apoio muito importante [xix]. Assim comenta Paes Loureiro:

Mestre Cupijó reeditou Pedro Teixeira, aquele que conheceu o Rio das Amazonas, trazendo até nós, para nosso conhecimento, a alma de sua cidade, que no seu sopro confere vida ao barro primitivo de uma alegria, a que a luta brava da civilização começa a nos desacostumar.
Nele (...), entre barrancos de bemóis, corre o lento rio Tocantins, piscoso de lendas e mistérios; (...) nele brincam as crianças humildes de Cametá, fazendo cirandas em sustenidos e bequadros; nele se ergue a Cabanagem em punhos, deflagrando tambores e alegorias; nele percorre, na veia das melodias, o sangue legítimo da verdade popular (...).
Mestre Cupijó toca pelo amor de tocar. Ainda não aprendeu a vender a sua arte, porque seria mercadejar a sua alma [xx].

E a recíproca parecia ser verdadeira. Em 1976, referindo-se ao contexto musical de Belém, e à questão da difusão da música “folclórica” e popular paraense, Cupijó tece observações elogiosas à nova geração de músicos que surgia, assim como a artistas já de velha história. O relato a seguir é interessante para percebermos que artistas como Cupijó, do interior, aparentemente com pouco contato com o mundo das classes médias urbanas e seu meio cultural, reconheciam o papel desse grupo na construção de uma música popular com feições regionais. O reconhecia como grupo, sobretudo, onde encontrávamos desde o veterano Waldemar Henrique até os novatos. Ele dizia:


“Penso que nosso estado é muito feliz. Não apenas no campo folclórico, ao qual eu pertenço, como, também, na música popular. Chego mesmo a pensar que no Pará se pinta uma nova interprete nacional, com Fafá de Belém. E os compositores como Waldemar Henrique, Paulo André Barata e Paes loureiro, Vilar, Proença, foram uma constelação que muito me anima lá pelo meu interior [xxi].


[i] LIMA, Elza. Cupijó: mestre do cancioneiro popular. O Liberal, Belém, 01 ago. 1993. Caderno 3, p. 10.
[ii] SALLES, 1985, op. cit.
[iii] Mestre Cupijó lança CD para comemorar carreira. O Liberal, Belém, 28 ago. 1999. Caderno Cartaz, p. 6.
[iv] COUTO, Jesus. Hoje, siriá ao vivo, em Belém. A Província do Pará, Belém, 10 abr. 1976. 2º Cad., Transa Musical, p. 6.
[v] Ibidem.
[vi] Idem. No mesmo sentido, outra entrevista de Cupijó in: Mestre Cupijó, o rei do siriá, está elaborando o seu quinto LP. A Província do Pará, Belém, 15 jul. 1977. 1º Cad., p. 7.
[vii] Um outro exemplo de indignação sobre esse tipo de atitude pode ser visto no depoimento de D. Zazá, amiga de Mestre Lucindo, um popular criador de carimbó do município de Marapanim que se tornou conhecido em Belém já nos anos 80. D. Zazá chega inclusive a dizer que a partir de certo momento se recusaria a dar entrevistas ou a cantar o carimbó para qualquer pessoa que fosse até ela a não ser que fosse paga por isso. Dizia ainda que durantes anos seguidos eles teriam apenas recebido promessas de gravação e de recebimento de direitos autorais, coisa que nunca acontecia. Cf. Entrevista com D. Pequenina (esposa de mestre Lucindo) e D. Zazá. Museu da Imagem e do Som do Pará. (FV 91/12). Estas entrevistas parecem ter sido feitas nos anos 90, após a morte de Lucindo.
[viii] SILVA, Coely. Entrevista à Mario Martins: As verdades históricas do carimbó, que é “curembó”. O Liberal, Belém, 23 jul. 1974. p. 8.
[ix] MODESTO, Márcia. A influência negra na dança e no canto paraense. Cultural, Belém, set. 1988. p. 8.
[x] Batuque e dança de mestiços e negros do estado do Amapá. Sua área de maior incidência é a cidade de Mazagão Velho e o bairro do Laguinho, onde ficava o antigo quilombo do Curiaú. Cf. SALLES, 2007, op. cit. p. 198.
[xi] MARIA, Luíza. Cupijó o mestre do siriá, op. cit.
[xii] COUTO, Jesus. Siriá é lançado para todo o Brasil através da Continental. A Província do Pará, Belém, 20 abr. 1975. 2º Cad., Transa musical, p. 5.
[xiii] Em muitas cidades do interior, as bandas de baile dos anos 40, 50 e 60 eram conhecidas por jazz ou “jazzes”. Eram na verdade fruto da popularidade de bandas instrumentais, com presença de muitos instrumentos de sopro, que foi comum em todo o Brasil a partir do dos anos 30. Cf. SALLES, 1985, op. cit.
[xiv] ASSUNÇÃO, José. Siriá. Cametá, Cametá, 23 jun. 1971. Opinião, p. 5.
[xv] MARIA, Luíza. Cupijó o mestre do siriá. O Liberal, Belém, 25 nov. 1973. 3º Caderno, p. 9.
[xvi] LOUREIRO, João de Jesus Paes. Mestre Cupijó. Folha do Norte, Belém, 12 abr. 1973. 2º Caderno, p. 1.
[xvii] Ibidem, p.1.
[xviii] A famosa expedição de Pedro Teixeira fez parte do processo de conquista e ocupação da Amazônia pela coroa portuguesa, num momento em que nações estrangeiras ameaçavam ocupar definitivamente o território português nestas terras, particularmente os franceses que já haviam fundado a cidade de São Luis do Maranhão. No processo de expulsão destes povos e de conquista - nada amistosa como se sabe - dos indígenas ocorreu esta expedição. Entre 1637 e 1638 setenta soldados e mil índios liderados por Pedro Teixeira, partiram de Cametá, navegando pelo rio Amazonas até seu alto curso, penetrando nos rios Napo e Coca. Desta parte em diante os expedicionários foram por terra e alcançaram à cidade de Quito, que na época era a capital do Vice-Reino do Peru. Cf. NETO, José Maia Bezerra. A conquista portuguesa da Amazônia. In: FILHO, Armando Alves; JÚNIOR, José Alves; e NETO, José Maia Bezerra. Pontos de história da Amazônia, v. I. Belém: Paka-Tatu, 2001.
[xix] Cabanagem: movimento insurrecional ocorrido no Pará entre 1935 e 1940, que teve forte atuação das camadas populares contra as elites locais. É considerado como um dos maiores movimentos revolucionários populares do período imperial brasileiro. Cf. NETO, José Maia Bezerra. Cabanagem a revolução do Pará. In: FILHO, JÚNIOR e NETO, 2001, op. cit.
[xx] LOUREIRO, João de Jesus Paes. Mestre Cupijó, op. cit.
[xxi] COUTO, Jesus. Hoje, siriá ao vivo, em Belém. 1976, op. cit, p. 6.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A escola que que foi apelidada de "presídio"

No desfile escolar da Terra Firme o locutor anunciou que está em fase de licitação a construção da Escola Celso Malcher. Será que é verdade ou não passa de mais uma propaganda do governo do estado sendo feita bem antes da obra sequer começar?? Perguntar não ofende! Principalmente em época de eleições.

Comecei e trabalhar nesta escola logo que ela abriu. Era um galpão, onde antes existia uma quadra de futebol de salão. Era quente como o inferno, com paredes de compensado separando as turmas. Quando chovia caia mais chuva dentro do que fora. Para terem uma ideia de como eram as condições do lugar, os alunos das outras escolas do bairro apelidaram o local de “presídio”, o que constrangia muito os estudantes, funcionário e professores do Celso.

Ela foi inaugurada no governo do PSDB (Se não estou enganado foi na transição do governo Almir Gabriel - PSDB - para seu sucessor e agora novamente governador, Simão Jatene - também PSDB). Brigamos muito pra que o governo fizesse uma escola nova. Foram dezenas de reuniões com técnicos da SEDUC, idas à SEDUC, assembleias, etc. Participei de boa parte desses eventos, depois saí da escola. Passou-se um bom tempo e o governo colocou a escola no prédio da paróquia de São Domingos de Gusmão. Prédio um pouco melhor do que o anterior, mas alugado. Graças à bondade do Padre Bruno.

Fora da escola sempre ouvia os boatos: agora vai sair escola nova, já compraram o terreno, já ta com a verba garantida, etc. Nunca vi de fato isso ocorrer! Tomara que ocorra agora.

Mas na melhor das hipóteses, torcendo pra que seja construída uma nova escola no bairro, uma coisa já está clara: O desrespeito do governo do PSDB, sobretudo, pela educação do estado. Colocar crianças do ensino infantil e fundamental num galpão quente e úmido, um “presídio” como foi apelidado, é no mínimo não ter compromisso nenhum com a educação pública!

A eleição está ai. O governo diz que seu candidato à prefeitura de Belém vai trabalhar junto com o Estado, fazendo as mesmas políticas. Será que novas escolas da administração municipal teriam então o mesmo modelo da Celso Malcher caso ganhasse o candidato do PSDB?!

Medo!

Teríamos então novos “presídios” nas periferias de Belém?

Nem sei se a obra vai sair mesmo. Tomara que desta vez aconteça (e já esperamos por mais de 10 anos)!
Ficarei feliz por isso, mas não esquecerei a indignidade de como a educação no Pará é tratada pelo governo tucano!

Espero que os ex-alunos, muitos dos quais ainda me cumprimentam quando me encontram na rua da Terra Firme, pais e professores lembrem disso na hora de votar!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sobre a greve dos Trabalhadores da Construção Civil


Hoje pela manhã passei no ato organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém. Fiquei impressionado com a capacidade de organização dos trabalhadores. Acho que havia mais de 6 ou 7 mil operários na frente da FIEPA, na Quintino Bocaiuva. Fora os operários que estavam mobilizados na Av. Augusto Montenegro, que segundo fotos que me foram mostradas, pareciam em número igual ou maior.
Os professores da UEPA, que estavam mobilizados em frente ao Centro Integrado de Governo (CIG), foram prestar sua solidariedade ao movimento operário e no final do ato os operários passaram na Av. Nazaré, onde estávamos concentrados, em retribuição. Foi um momento muito forte, até emocionante eu diria!
Os “peões” são historicamente considerados cidadãos de segunda categoria no Brasil. Carregamos ainda o fardo da herança escravocrata que nos deixou com a visão deturpada sobre o trabalhador braçal. Quem exercia esse tipo de trabalho no período colonial e mesmo depois disso eram os escravos, assim como os demais grupos marginalizados da sociedade brasileira: índios, mestiços e pobres.
Até hoje esses trabalhadores, homens e mulheres, são vistos como sub-cidadões, são necessários apenas na medida em que fazem o serviço pesado e braçal, que os “cidadãos de bem” não se dispõe a fazer! Podemos dizer que são pessoas invisíveis para o restante da sociedade: são os operários que só aparecem nas piadas de “cantada de canteiro de obra”, são os garis que correm pelas ruas das cidades, anônimos, são as pessoas que limpam nossas casas, arrumam nossos quartos, constroem nossas casas, são todos aqueles que muitas vezes não tem sequer o “privilégio” a um “bom dia”, mesmo que por pura educação!
Hoje quando estava em cima do carro som em meio aos operários, acompanhado de outro professor que falou algumas palavras de solidariedade ao movimento, pude perceber quem eram esses homens (neste caso a maioria homens e a minoria mulheres): são negros, mestiços, caboclos, pobres, bronzeados pelo sol, calejados pela lida diária de trabalho duro; são pais de família ou não, muitos são jovens, outros com rugas que como camadas arqueológicas nos indicam quantos prédios já ergueram, quantas cidades já construíram; são moradores do Tapanã, do PAAR, da Terra Firme, do Guamá, do Jurunas, etc.; muitos desses dependem das ciclovias, inexistentes na maioria das ruas da cidade, pois a passagem de ônibus lhes pesa no orçamento mensal; se equilibram no trânsito intenso da cidade, correndo o risco de não chegarem aos canteiros de obra, onde as bicicletas, centenas encostadas umas sobre as outras, são um sinal claro de que temos duas cidades: a cidade do povo que precisa se equilibrar pra sobreviver e a cidade dos carros e condomínios de luxo. Na Avenida Augusto Montenegro, para onde a cidade de Belém mais cresce, são os moradores das favelas e “ocupações” que ficam ao fundo, nos bairros pobres – fruto da luta prática dos trabalhadores –, e nas franjas da avenida constroem os condomínios e os shopping centers que vão atender a nova classe média e a elite paraense!
Essas são mais algumas facetas de nossa sociedade: autoritária e hierarquizada, desigual e excludente!
De fato são esses operários que constroem a metrópole da Amazônia, mas ao mesmo tempo são excluídos do direito de cidadania! São os personagens reais daquela música de Zé Geraldo, “Cidadão”, gravada e regravada, entre outros intérpretes por Zé Ramalho.

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?

Os operários não querem roubar, querem apenas o que lhes pertence por direito, e mais, querem o que pertence a todos os homens e mulheres: trabalho honesto com salários e condições de trabalho justos e decentes. E parece-me que estão dispostos a tomar o que lhes pertence. Mostrando que a “classe trabalhadora” permanece viva, mesmo que muitas vezes anestesiada por representantes que mudam de lado ao chegar ao governo.
Acho que em termos de Belém os operários da construção civil são hoje a categoria mais mobilizada e consciente de suas dificuldades e necessidade de luta. Em boa parte isso se deve ao sindicato e a militância do PSTU, que é majoritário na sua coordenação. Neste sentido Cleber Rabelo (assim como Atenágoras Lopes e outros dirigentes) se destaca como uma liderança orgânica e legítima! Operário como todos os demais operários presentes; é mais um peão que constrói a cidade que cresce, mas está excluído desta mesma cidade, pois não tem os direitos mínimos garantidos por lei e é desrespeitado em sua dignidade.
A luta dos operários da construção civil é justa, é justíssima! A cidade também lhes pertence, pois em boa parte é erguida por sua luta diária! Nada mais justo do que tomarem as ruas da mesma para exigir melhores condições de trabalho, salários dignos e uma cidade para todos, e principalmente para quem mais precisa dela!
Parabéns pela mobilização e boa luta aos Trabalhadores da Construção Civil de Belém!!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Vereador@s e vereador@s assistencialistas


Há vários tipos de políticos e vários tipos de vereador@s, mas podemos dividir esses últimos em duas categorias principais, de maneira bem simplificada: 1) VEREAD@R ASSISTENCIALISTA e 2) VEREAD@R.
O VEREAD@R ASSISTENCIALISTA é aquele que aterra a rua da sua casa, dá remédio pra sua receita, consegue um emprego pra seu primo desempregado, consegue um leito pra sua mãe doente, dá uma dentadura pra sua avó e um óculos pra seu avô, etc., etc. É chamado assistencialista, pois “assiste” suas necessidades imediatas.
Porém qual é o problema desse tipo de veread@r??
É que durante 4 anos ele (o VEREAD@R ASSISTENCIALISTA) cobra tudo que lhe deu, com juros e correção monetária! Não vota na lei que aumenta a verba pra saúde pública que atenderia sua mãe doente; não aprova o orçamento que iria levar mais verba pra escolas públicas onde estudam seus filhos e os filhos de seus vizinhos; é favorável ao prefeito quando esse quer aumentar a passagem de ônibus e você e seu avô míope é que vão ficar sem grana para condução; apoia o prefeito quando esse manda bater em camelôs e outros trabalhadores, que ficam sem trabalho e renda, igual o seu primo desempregado; etc., etc.
E o segundo tipo, o VEREAD@R, como é? Esse é o PODER LEGISLATIVO da cidade. É responsável por criar leis para todos (por isso é legislativo = leis). Leis que atendam a todos os moradores da cidade (e não lei de dentadura pra um ou óculos pra outro). Ele deve criar leis que atendam a todos os cidadãos e que garantam investimentos públicos na saúde (pra que você não precise ficar mendigando leito em hospitais), na educação (pra que seus filhos e os filhos de seus vizinhos tenham boas escolas), geração de emprego e renda (pra que haja concursos e empregos para todos e não só pro seu primo na época da campanha eleitoral!), que tenha saneamento básico (pra você não ficar recebendo restos de construção como aterro na época de campanha!). Ele deve fiscalizar a atuação do prefeito, verificar os orçamentos propostos, fiscalizar o gasto público para que seja direcionado para onde deve ser, para os mais necessitados!
Ele não é assistencialista, pois não vai “assistir” seus problemas imediatos, mas pode legislar para que a cidade seja melhor o tempo todo (não só durante as eleições) e para todos (não só para a sua família)!
E o seu candidato a veread@r é de qual tipo?
E não adiante me dizer que todos são iguais e tudo é uma merda mesmo, pois na hora você vai votar em alguém de qualquer forma, e toda a coletividade vai depender dessa sua escolha!
Você vai ter que escolher! Os nossos políticos são também de nossa responsabilidade! São também retrato do que somos, nós eleitores e cidadãos brasileiros!
Dizer que todo político é ladrão não resolve muita coisa, afinal, fomos nós que os colocamos no poder! Não foi??

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Voto e religião


Medo, ignorância, preguiça, intolerância e/ou manipulação? Qual dessas palavras ou qual combinação dessas explica a incompreensão que há entre boa parte das pessoas que não entendem que a garantia de um direito a um grupo historicamente marginalizado não necessariamente retira o direito de outros grupos?
Por exemplo, o direito ao casamento nas relações homoafetivas, não elimina o direito já existente de heterossexuais casarem, terem filhos, constituírem famílias, etc. Não precisa ser muito inteligente pra saber disso!
Em nenhum momento quando se discute o direito do casamento entre pessoas do mesmo sexo há alguma defesa de que por conta disso as pessoas de sexo diferente tenham que perder o direito de casar. Convenhamos, alguém realmente acredita – usando o cérebro como ferramenta – que uma coisa vai impedir a outra??
Tem que acreditar em conto de fadas pra pensar que se gays, lésbicas e outras feições homoafetivas, adquirirem direito de casar, ou outro direito qualquer, iriam implantar uma “ditadura gay”. Esse argumento é risível, medíocre, mas infelizmente compartilhado por muitas pessoas.
Outro exemplo, a liberdade de fato (já que em direito é garantida na constituição) de religiosos afro-brasileiros exercerem seus cultos em espaço público. Quem em sã consciência entende que a liberdade para os cultos afro-brasileiros vai significar o fim da liberdade para os cultos evangélicos, ou católicos, ou budistas, ou muçulmanos, etc.?
Em que momento alguém ouviu uma liderança religiosa africana dizer que quer que seus cultos sejam liberados e que por isso exige que os cultos de outras religiões sejam proibidos??!! Já se disse isso alguma vez, por acaso??
Claro que não!
Pois volto a dizer: a garantia de um direito a uma coletividade marginalizada historicamente não significa necessariamente o fim do direito já existente a outras coletividades! O direito de casamento homoafetivo, não exclui o direito do casamento heteroafetivo; a liberdade de cultos africanos não proíbe a liberdade de cultos não africanos.
E essa é a questão do estado laico! Para que TODAS as religiões sejam respeitadas, para que tenham seus espaços de liberdade religiosa, para que possam professar sua fé, é necessário que o Estado seja laico, ou seja, que não escolha nenhuma das religiões!
BOA PARTE dos candidatos que defendem bandeiras religiosas nesta campanha, PRINCIPALMENTE as vertentes neopentecostais, usam claramente a fé de seus seguidores para pedir votos. Usam os cultos para isso! Colocam o nome e o rosto dos candidatos na porta das igrejas deixando os devotos sem outra opção. Usam da fé para exercer um poder político claro!
Isso não é propriamente um problema (TALVEZ SEJA UM PROBLEMA ÉTICO!!). As religiões podem se organizar politicamente. Fazem isso, aliás! O que é verdadeiramente preocupante é que esses candidatos propõem mandatos restritivos à liberdade religiosa e sexual/comportamental de outros grupos. Suas propostas não estão tão preocupadas em garantir direitos ao seu grupo, mas muitas vezes estão concentradas em impossibilitar a garantia de direitos a outros grupos! Estão emperrando lutas que são justas, e que, convenhamos, não lhes dizem repeito, pois não vão lhes impedir de nada, não vão lhes proibir de fazer tudo o que já fazem no sua dia a dia!  
Estão claramente defendendo o direito DE SUA FÉ em oposição a outras, em oposição à pluralidade. Dizem que estão se defendendo de uma “ditadura gay”, da “macumba”, ou seja lá o que for, mas como alternativa a isso não defendem a liberdade para todas as religiões e sim a hegemonia da sua!
Isso é um perigo para a democracia! Um perigo para liberdade de TODAS AS RELIGIÕES.
Essas interpretações confusas só podem ser explicadas pela combinação variada das palavras acima: Medo, ignorância, preguiça, intolerância e/ou manipulação.
Porém, humanista como sou, acredito no potencial que existe latente em cada indivíduo de tentar fugir da obviedade, da pasmaceira intelectual. Pessoas podem ser mais do que são, podem superar sua própria alienação, pela simples e pura vontade de saber mais, de se informar, de não acreditar passivamente em tudo que ouvem.
As eleições são um bom momento para isso!
É hora de tentar!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O voto nulo em Belém


Compreendo e respeito a opção de muitos de meus amigos que optaram pelo voto nulo. Refiro-me àqueles que têm essa opção como uma alternativa política consciente, tais quais os colegas Anarquistas, por exemplo. De outro lado entendo perfeitamente que as lutas importantes TAMBÉM se dão no campo da práxis, nos movimentos sociais, nos sindicatos, na casa, na luta estudantil, na rebeldia da juventude, no campo da cultura, na contracultura, nos bares, nas “occupy”, na rebeldia comportamental, etc. Ora sabemos que política está em todos os lugares. Porém sei que o campo da política institucional (oficial) também é importante!! E muito!! Belém viveu e vive 8 anos de governo medíocre, acusado inúmeras vezes de corrupção, antipopular, repressor das categorias mais necessitadas e trabalhadoras (a exemplo de ambulantes, trabalhadores da saúde, do transporte alternativo, estudantes, etc.), sem contar o obscurantismo cultural e artístico ao qual ficou isolada a cidade nos últimos anos. 
Temos a chance de construirmos uma boa cidade às vésperas dos seus 400 anos. Uma administração com participação popular e apoio de grande parte da população pobre, que já teve no governo de EdmilsonRodrigues um dedicado representante. De outro lado há os candidatos da elite fragmentada, todos com cara de bons moços, de cordeiros, mas que no fundo representam um mesmo projeto de cidade: excludente e antipopular. Eles têm o capital, muito espaço na TV, apoio dos grandes meios de comunicação local (mesmo que divididos) e, além disso, na possibilidade de um 2º turno estarão todos juntos contra um inimigo comum: o povo e seus candidatos! Daí que a hora da mudança é agora, no primeiro turno!! 
Neste sentido é mais que necessário a luta unificada (mas sempre crítica) por uma mandato das esquerdas de fato! É necessário não só votar em Edmilson Rodrigues, mas eleger vereadores que deem sustentação política pra seu mandato! Lembremos que os vereadores podem barrar ou acelerar mudanças na cidade, de acordo com o seu posicionamento junto ao executivo. Um prefeito isolado, mesmo com boas intenções não pode fazer muita coisa. 
Fico a me perguntar se num contexto desses votar nulo não é se omitir da possibilidade de mudança pra melhor. É irreal que o voto nulo na atual cojuntura vá ser um voto de protesto efetivo, NÃO TERÁ EFEITO POLÍTICO PRÁTICO. Veremos mais adiante, no dia do resultado das eleições, que essa rebeldia (em alguns casos infantil e desavisada – repito: EM ALGUNS CASOS!!!) pode representar um atraso efetivo no processo de mudança! Daí que defendo o voto!! E não se trata do “voto útil”, mas um voto consciente e direcionado a candidatos populares e de esquerda! Voto Edmilson Rodrigues por acreditar na mudança, voto nos vereadores da coligação PSOL, PSTU e PCdoB. Não me omito de lutar pela cidade que queremos! Eu voto em “Belém nas Mãos do Povo” (PSTU / PSOL / PC do B)!!!