terça-feira, 28 de junho de 2011

Calcinado o sol levanta
E a vida tosta
Todos os dias
Vaga marmóreo o poeta,
como se carregasse sua defunta história
nas costas.

A estética da pirataria

o Brega,
o plágio,
a pirataria,
o barulho,
o batom forte e vermelho nos lábios,
o suor caindo nas costas dos dançantes,
o barulho das aparelhagens, o excesso,
a plebe dançando,
suada,
negros,
mestiços,
mamelucos,
cafuzos,
caburés,
caboclos,
curibocas,
desordeiros,
violentos,
baderneiros,
bebuns,
festeiros,
mal educados,
feios,
as gostosas da periferia,
os da periferia,
a estética da pirataria,
as feiras,
o caos,
a baderna,
a desordem,
o não branco,
o não burguês,
aquele que não vai à vernissages de artes plásticas, fotos contemporâneas. Só vê as fotos das manchetes de folhetins das mortes da semana,
os não limpos,
os banguelas,
os que vão morrer cedo,
a ralé,
a canalha,
a choldra,
confusão de gente ordinária,
salgalhada,
a estética do feio,
a estética do plágio,
a estética sem estética,
a estética gafieira,
a estética perfume da Coty,
a estética da dentadura,
a estética da rapadura,
a estética da patusca,
a estética da pirataria,
a ralé na era de sua reprodutibilidade técnica,
os alienados,
aqueles que não são nem mercado,
nem elite intelectual com seus gostos refinados,
aqueles que não sentam no bar pra ouvir Bossa Nova,
a estética Terra Firme, Guamá, Jurunas, Pedreira, Condor, Paar, Benguí, baixada, favela, “Carlos Marighela”, “Che Guevara”,
boteco,
tasca,
charque frito e gorduroso,
peixe frito com açaí,
estética jabá,
estética da pirataria,
que é tudo e não é nada,
que é subversiva e vai selecionar por baixo, a parti de baixo o que é e o que não é belo,
sem “vanguardismos babacas” e pequeno-burgueses, das elites intelectuais,
estética ralé,
a estética rua,
a estética praça,
estética patusca,

a estética canalha!!!

Devoremos Flami-n’-assú de Abguar Bastos; devoremos Antropofagia de Oswald de Andrade, devoremos o Brega, o Tecno-Brega, transformemos Waldemar Henrique em Tecno-Brega, assim como Waldemar Henrique transformou o popular, o “folclore” em música erudita. Ou por outro lado não devoremos o erudito, por que temo que devorá-lo? Por que temos que ser cultos e refinados? Sejamos o que quisermos, sejamos a ralé, que pirateia, plagia, imita, inventa, cria, reproduz, faz e desfaz à vontade o que quer com o que quer, sem se preocupar com refinamentos e valores estéticos higiênicos. Todos podem ser ídolos, tanto que sejam do caos! (Disse Hesíodo: “Bem primeiro nasceu Caos...”)

Que a ralé coma o belo,
o limpo,
a ordem,
o silêncio,
o polido e delicado,
o burguês,
façamo-los o feio,
o sujo,
a desordem,
o barulho,
o rude e áspero,
o proletário,
a revolução na política e na estética,
a ralé,
a política, a subversão,

o sub-verso da versão e da seleção do que é e não é belo. Criemos nossa própria estética, a estética do caos,

a estética da pirataria!!
Façamos a ode - desconexa - à pirataria

Festejemos ao ócio, a patusca!
Festejemos a desordem!
Festejemos o caos!
Festejemos a pirataria!



*Fiz este texto há uns 5 anos atrás e mostrei a alguns amigos ligados ao mundo da arte. Ninguém gostou ou pelo menos não disseram nada, sei lá.
Naquele momento refletia sobre a cultura contemporânea local e a condição da arte que vai da periferia ao centro. O Manifesto de certa maneira é uma expressão do que já ocorria com o tecnobrega e suas varias vertentes e a aproximação de setores médios da sociedade a este produto cultural.
Acreditava naquela época que a vanguarda da cultura contemporânea no Pará e no Norte do Brasil estava na música e não na literatura. Continuo pensando a mesma coisa!
Penso que a literatura deve se aproximar de uma realidade concreta, a coisa que ocorre nas periferias das cidades da Amazônia, sobretudo em Belém. Porém não faz isso em boa parte por está em um nível do “eu lírico” alienado da realidade, alienado de uma cultura fragmentaria, fragmentada e que tem a expressão maior na pirataria, um processo em construção – pra onde vai? Não tenho a menor idéia!
A matéria prima da poesia deve ser a realidade circundante – a dura realidade fragmentada da Amazônia – enquanto isso não ocorre acho que temos uma separação entre o poético e o político!

domingo, 26 de junho de 2011

Encerramento Boi da Terra.

É isso ai meu car@s, Boizinho da Terra encerra oficialmente suas atividades este ano - apesar de que durante o ano todo ainda ocorrerão oficinas e eventos com a comunidade. Tivemos a honra de contar com a presença, no encerramento, de Nazaré Pereira, trazida por nosso grande companheiro Adilson Alcantara, e obviamente com todos nossos amigos de sempre: Extremo Norte Movimento Literário, Bloco da Canalha, Grupo Choramingando, Eli e grupo de teatro do bairro, nosso violeiro Eliezer Aviz e toda a comunidade da TERRA FIRME. O nosso Boizinho da Terra agradece a todas e a todos pela presença, àqueles que não puderam ir agradecemos e lembramos que ano que vem tem mais. É periferia de Belém mostrando que existe muito mais do que violência na cidade, existe também beleza, alegria e COMUNIDADE!. Um grande abraço!!!!

sábado, 25 de junho de 2011

Boi da Terra

Amanhã último dia do Boi da Terra. Vamos!

Meu boi chegou
Tony Leão

Meu boi chegou
Pra enfeitar o seu terreiro
alegrar nosso cortejo
esquentar o batalhão
meu boi chegou
renovando as suas fitas
afinou suas barricas
com alegria e devoção

2 x
este boi é de ouro sim senhor
ele é meu tesouro, sim senhor
e alegra o subúrbio na festa de São João

2x
Batuca Boi da Terra
Põe suing na canção
Retumba no compasso
Cantando e encantando a multidão

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Minha primeira parceria com Thomaz Silva

Batuque brasileiro
Thomaz Silva e Tony Leão)

Meu senhor, por favor
Tenha paciência de deixar tocar
O meu batuque, um carimbó assim
Pois trinta contos não tenho nem pra mim

Sou do tempo das palmas e da roda
Sou do tempo do prato-e-faca na mão
E o pandeiro que soava direitinho
Quando o samba ainda nem era canção

Agora toco o meu surdo e cuíca
E tamborim que sempre está a acompanhar
Por isso aviso que sem prendes o meu samba
De umbigada a pernada vai voar

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Cortejo do Boi da Terra em 19 de junho - TV Liberal, ORM.

São Domingos dê licença
(Tony Leão da Costa)
São João chegou
São Domingos dê licença
Que nesta terra
Meu boizinho vai passar
Meu terreiro é na rua
Tucunduba, Rio guamá.

Refrão
Venha vê, venha vê meu boi
Boi da Terra, deste chão.
Vem chegando o mês de junho
Vem chegando o batalhão
E o contrário deste boi
Não é outro boi contrário
É a pobreza desta terra
E este povo no calvário



Domingo,dia 26, a partir das 12 horas.
Local: passagem Comissário, esquina com passagem Nossa Senhora das Graças, uma esquina da praça central da Terra Firme.

problemas técnicos

Amig@s, tô sem teclado, sem comunicação, sem enter, temporariamente sem postar aqui. Desculpem!

A Carta do 2º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas

Rodrigo Vianna (Escrevinhador), foi o redator das alterações do documento votadas em plenária na tarde de domingo, 19/06/2011. 2º blogprog, Brasília.

Desde o I Encontro Nacional dos Blogueir@s Progressistas, em agosto de 2010, em São Paulo, nosso movimento aumentou a sua capacidade de interferência na luta pela democratização da comunicação, e se tornou protagonista da disseminação de informação crítica ao oligopólio midiático.

Ao mesmo tempo, a blogosfera consolidou-se como um espaço fundamental no cenário político brasileiro. É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas. Tem sido o contraponto às manipulações dos grupos tradicionais de comunicação, cujos interesses são contrários a liberdade de expressão no país.

Este movimento inovador reúne ativistas digitais e atua em rede, de forma horizontal e democrática, num esforço permanente de construir a unidade na diversidade, sem hierarquias ou centralismo.

Na preparação do II Encontro Nacional, isso ficou evidenciado com a realização de 14 encontros estaduais, que mobilizaram aproximadamente 1.800 ativistas digitais, e serviram para identificar os nossos pontos de unidade e para apontar as nossas próximas batalhas.

O que nos une é a democratização da comunicação no país. Isso somente acontecerá a partir de intensa e eficaz mobilização da sociedade brasileira, que não ocorrerá exclusivamente por conta dos governos ou do Congresso Nacional.

Para o nosso movimento, democratizar a comunicação no Brasil significa, entre outras coisas:

a) Aprovar um novo Marco Regulatório dos meios de comunicação. No governo Lula, o então ministro Franklin Martins preparou um projeto que até o momento não foi tornado público. Nosso movimento exige a divulgação imediata desse documento, para que ele possa ser apreciado e debatido pela sociedade. Defendemos,entre outros pontos, que esse marco regulatório contemple o fim da propriedade cruzada dos meios de comunicação privados no Brasil.

b) Aprovar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) que atenda ao interesse público, com internet de alta velocidade para todos os brasileiros. Nos últimos tempos, o governo tem-se mostrado hesitante e tem dado sinais de que pode ceder às pressões dos grandes grupos empresariais de telecomunicações, fragilizando o papel que a Telebrás deveria ter no processo. Manifestamos, ainda, nosso apoio à PEC da Banda Larga que tramita no Congresso Nacional (propõe que se inclua, na Constituição, o acesso à internet de alta velocidade entre os direitos fundamentais do cidadão).

c) Ser contra qualquer tipo de censura ou restrição à internet. No Legislativo, continua em tramitação o projeto do senador tucano Eduardo Azeredo de controle e vigilância sobre a internet – batizado de AI-5 Digital. Ao mesmo tempo, governantes e monopólios de comunicação intensificam a perseguição aos blogueiros em várias partes do país, num processo crescente de censura pela via judicial. A blogosfera progressista repudia essas ações autoritárias. Exige a total neutralidade da rede e lança uma campanha nacional de solidariedade aos blogueiros perseguidos e censurados, estabelecendo como meta a criação de um “Fundo de Apoio Jurídico e Político” aos que forem atacados.

d) Lutar pelo encaminhamento imediato do Marco Civil da Internet, pelo poder executivo, ao Congresso Nacional.

e) Defender o Movimento Nacional de Democratização da Comunicação, no qual nos incluímos, dando total apoio à luta pela legalização das rádios e TVs comunitárias, e exigindo a distribuição democrática e transparente das concessões dos canais de rádio e TV digital.

f) Democratizar a distribuição de verbas públicas de publicidade, que deve ser baseada não apenas em critérios mercadológicos, mas também em mecanismos que garantam a pluralidade e a diversidade. Estabelecer uma política pública de verbas para blogs.

g) Declarar nosso repúdio às emendas aprovadas na Câmara dos Deputados ao projeto de Lei 4.361/04 (Regulamentação das Lan Houses), principais responsáveis pelos acessos à internet no Brasil, garantindo o acesso à rede de 45 milhões de usuários, segundo a ABCID (Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital).

h) Fortalecer o movimento da blogosfera progressista, garantindo o seu caráter plural e democrático. Com o objetivo de descentralizar e enraizar ainda mais o movimento, aprovamos:

- III Encontro Nacional na Bahia, em maio de 2012.

- Que a Comissão Organizadora Nacional passará a contar com 15 integrantes:

- Altamiro Borges, Conceição Lemes, Conceição Oliveira, Eduardo Guimarães, Paulo Henrique Amorim, Renato Rovai e Rodrigo Vianna (que já compunham a comissão anterior);

- Leandro Fortes (representante do grupo que organizou o II Encontro em Brasília);

- um representante da Bahia (a definir), indicado pela comissão organizadora local do III Encontro;

- Tica Moreno (suplente – Julieta Palmeira), representante de gênero;

- e mais um representante de cada região do país, indicados a partir das comissões regionais (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte). As comissões regionais serão formadas por até dois membros de cada estado, e ficarão responsáveis também por organizar os encontros estaduais e estimular a formação de comissões estaduais e locais.

Os blogueir@s reunidos em Brasília ainda sugerem que, no próximo encontro na Bahia, a Comissão Organizadora Nacional passe por uma ampla renovação.

Brasília, 19 de junho de 2011. - Retirado de Blog da Maria Frô

quarta-feira, 15 de junho de 2011

terça-feira, 14 de junho de 2011

Moinhos de vento

Os moinhos de vento deveriam moer apenas ventos
Os ventos do norte e aqueles do sul
Ventos transversais, diagonais, horizontais
Em forma de bolhas, folhas, plataformas e outras mais

Os moinhos de ventos foram inventados para isso
Mas com o passar dos tempos passaram a moer sonhos também

Quando o velho sambista da Mangueira disse isso uma vez
Referia-se à moagem de sonhos
“O mundo é um moinho”
Suas engrenagens são de ferro puro

Os ventos quando são moídos transformam-se n’outras matérias:
Borboletas, passarinhos, filhotes de cães, jardins de flores astrais,
Bactérias...
Os sonhos, por sua vez, quando são moídos
Transformam-se no simples pó
O pó do tempo dos homens...

sábado, 11 de junho de 2011

Olhos do fundo!

Hoje às 01h30min da manhã minha amiga Vânia Ferreira da Silva ligou dizendo que estava vendo o luar no espelho d’água do rio Caeté, em Bragança. Curiosamente naquele exato instante eu tinha me afastado da multidão no bar Palafita e estava sozinho olhando o luar no espelho d’água do rio Guamá.
Estava exatamente na entrada do rio Guamá, ou na boca do rio como se diz no interior. A lua tinha me envolvido naquele instante e acabei indo instintivamente, tal qual o labisônio, observar o rio e a ela mesma, a lua.
Essa coincidência só pode ser explicada pela conexão espiritual das amizades ou então pela ação das entidades da encantaria, que possivelmente estavam nos mundiando no mesmo momento LÁ DO FUNDO DO RIO!
O que será?
Paes Loureiro costuma falar dos olhos que nos observam constantemente dos fundos dos rios, dos fundos das matas, do breu destes dois ambientes. Eu lembro agora das nódoas, das sombras que aparecem e desaparecem nas matas e, sobretudo, nos rios da Amazônia. Quem já fez uma viagem de barco pelos rios barrentos desta região, sobretudo as viagens noturnas, já deve ter se deparado com desenhos misteriosos, manchas dentro do breu, dentro da escuridão úmida da noite, desenhos misteriosos que bóiam das águas caudalosas. Seriam cobras-grandes, boiúnas, as entidades, os encantados, jacarés, cardumes de peixes, sombras das nuvens refletidas pelo luar? Não sei.
Mas sei quase com certeza que o fundo rio com todos os seus mistérios de vida e de morte, atiça a curiosidade do morados das margens, seja nas cidades grandes como Belém seja nos interiores ou nas comunidades ribeirinhas. Lá do fundo do rio com certeza os olhos que nos olham, como diria o poeta, nos chamam também e ficam mais vivos quando a lua esta cheia e vibrante...
Neste momento em todas as partes pessoas param pra ver o rio, param pra olhar e para serem olhadas. E não contentes apenas em contemplarem a contemplação, elas se ligam, mandam e-mails, escrevem textos em blogs sobre o ato do flerte, flerte misterioso e profundo, um flerte com a profundidade das coisas, com a profundidade do não saber, com o breu, com o fundo, quem sabe... com os encantados d’outro mundo!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Batucada

Tava sumido, mas voltei e trago uma batucada que fiz pensando no Jurunas, esse bairro da cultura popular da gente!
Saravá!!

Vô dança bambiá para ia ai
Mas só danço se for lá Guamá
Vô dançá carimbó para io io
Mas só danço se for com meu amor

Vou fazer uma roda no Bagé
No final da estrada das Mongubeiras
Vou pedindo licença pro caboco
Que mora no fundo, lá na beira

No Largo de São José, lá na beira do Pirí
O meu boi canta ligeiro, ele canta e dança alí
No Largo de São José, no meio da batucada
O meu boi canta ligeiro, ele é pai da vaquejada!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tecnobrega II

"Não nego a riqueza e a autenticidade do samba, do baião ou do carimbó, mas às vezes esse vertente do pensamento leva à idéia de que a cultura feita pelo povo é algo “natural” e “congelada” e não pode mudar nunca. Ou seja, se o “caboclo urbano” pega um curimbó (principal instrumento do carimbó) e começa a tocar e cantar, falando de rios e pesca, de pássaros e marés, ele estaria perfeitamente colocado na categoria de “povo autêntico” do Pará e da Amazônia; mas, por outro lado, se este mesmo indivíduo, morador da Terra Firme ou do PAAR, do Jurunas ou do Benguí, adquire um computador e um moderno programa de edição de som, pirateado e vendido nas feiras livres da cidade, e faz um tecnobrega, ele automaticamente deixaria de ser visto como o “legítimo e autêntico caboclo amazônico” e passaria a ser visto como um desprovido de valores estético e de educação.

Esta visão congela a história, pois vê o povo como uniforme (o que já é um erro!) e preso a valores vistos como autênticos e estáticos, que não podem mudar nunca. Ao povo não é dado o direito da mudança, de ter acesso a tecnologia, por exemplo, pois se o tem é porque seria vítima da indústria cultural, seria ingênuo e não saberia o que faz, deturpou a sua própria cultura. Ao povo é dado o direito de ser apenas a visão pacata e tranqüila do folclore nacional".


Esta é a última parte de meu texto sobre tecnobrega que foi publicado no site Ponto Zero. Integra do texto está no site obviamente. Leiam!!

Saravá!!

Morte no campo paraense: quando a realidade supera a ficção

Texto esclarecedor e instigante de Fábio Pessôa:



No dia 13 de maio, uma sexta-feira, dia que representa oficialmente a abolição da escravatura, ocorreu o lançamento do filme “Esse homem vai morrer: um faroeste caboclo”, no Rio de Janeiro. Dirigido por Emílio Gallo, o filme é narrado por uma professora da região sul do Pará, interpretada pela atriz paraense Dira Paes. O filme conta a história de pessoas marcadas para morrer na cidade de Rio Maria, no Pará. Pessoas cujo o crime foi o comprometimento na luta pela terra e a denúncia do trabalho escravo na região, daí o elemento simbólico do 13 de maio, data de estréia do filme.

Um dos protagonistas do filme, o padre Ricardo Rezende é atualmente professor da UFRJ, mas seu protagonismo não se explica pela sua trajetória acadêmica. É sua atuação junto à Comissão Pastoral da Terra durante duas décadas, no município de Conceição do Araguaia, município que chegara em 1977, ainda sob forte vigilância e repressão em função da guerrilha do Araguaia desmantelada pelas forças do exército em 1974, que marca sua história de vida.

Com um registro de quase 700 entrevistas de sobreviventes de trabalho escravo, padre Rezende é um personagem como tantos outros na história do tempo presente amazônico, história essa marcada fortemente pela grilagem e especulação de terras públicas, projetos minerais que atraíram milhares de pessoas para a região, ação de grandes grupos que fazem da exploração ilegal de madeira um negócio altamente lucrativo, com terríveis danos sociais e ambientais.

Poderíamos ainda relacionar o filme com a situação política e econômica do Pará e da Amazônia, mas em certos casos a realidade supera a ficção. No mês do lançamento do filme, que denuncia pessoas ameaçadas, duas delas, os agricultores José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram assassinados no município de Nova Ipixuna, também no Pará. Além das mortes em si, o episódio é marcado por outro elemento simbólico. É que no mesmo dia das mortes, 24 de maio, estava em votação no Congresso nacional o projeto do novo Código Florestal Brasileiro, cuja aprovação foi comemorada pela bancada ruralista e por sua representação classista, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

José Cláudio e Maria do Espírito Santo, casal que vivia da agricultura e extração de castanha, faziam parte de uma extensa lista de pessoas ameaçadas de morte, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Num relatório recente a CPT também detalha 42 trabalhadores ameaçados que vieram a ser mortos nos últimos 10 anos, excluindo-se aí inúmeras chacinas realizadas contra trabalhadores que não entram nessa lista das “mortes anunciadas”. Além disso, o relatório da CPT encaminhado ao Ministério da Justiça em 2010 afirma que (...) até 2010, foram assassinadas 1580 pessoas, em 1186 ocorrências. Destas somente 91 foram a julgamento com a condenação de apenas 21 mandantes e 73 executores. Dos mandantes condenados somente Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Irmã Dorothy Stang, continua preso.

Como elemento simbólico dessas mortes, complementadas pela morte de uma testemunha do assassinato, o também agricultor Erenilton Pereira dos Santos, está o fato do casal não apenas está na “lista da morte” como também representar a luta pelas reservas extrativistas em oposição à grilagem e à exploração ilegal de madeira na região, práticas que muitos consideram facilitadas se o novo código florestal se confirmar.

Um dos itens polêmicos do novo código estabelece que, além da união, os estados poderão criar seus programas de regularização ambiental o que pode acarretar pressões políticas e econômicas sobre os governos. No Pará, tal pressão esbarra, vez por outra, na presença mais ou menos eficiente de órgãos como o IBAMA e a Polícia Federal. Essa flexibilização abre uma prerrogativa que ao invés de minimizar as tensões, deve radicalizar os conflitos, pois como vimos no relatório da CPT, a impunidade nesses casos é uma excelente conselheira para os assassinos de trabalhadores.

Há também o caso da anistia para aqueles que cometeram crimes ambientais até 2008, através da assinatura de um “termo de adesão e compromisso”. Outra medida que na prática significa a regularização do desmatamento.

Enquanto o governo federal articula uma ação interministerial para discutir ações aos problemas do campo, os trabalhadores rurais são ameaçados e mortos, e os ruralistas se sentem os “donos do campo”. Estendem sua arrogância ao parlamento e à grande mídia, numa impressionante sintonia entre o poder político, o grande capital e os meios de comunicação.

Nessa conjuntura de lutas de classe, é preciso unir denúncia com ação política concreta. O debate sobre o código florestal mostra que, apesar da vitória ruralista na câmara federal, a questão agrária brasileira ainda está em aberto, no momento em que o tema ambiental e a violência no campo têm ressonância internacional. Essas mortes não serão em vão. Nossa esperança e nossa luta apontam para outro caminho, um futuro cujo roteiro está sendo escrito por homens e mulheres que plantam os sonhos para colherem um novo amanhã.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Arrastões juninos do Boi da Terra

Domingo tem Boi da Terra, do qual tenho a honra de fazer parte como compositor e suposto barriqueiro. Convido a tod@s que gostam de cultura popular a comparecer na Terra Firme. E àqueles que falam muito do popular e da cultura popular, mas referem manter-se um pouco afastado dos bairros periféricos, dessa gente diferenciada que lá habita, sintam-se desconvidados!



Fruto da dissidência de um boi-bumbá mais antigo, o “Boi da Terra” foi fundado em 21 de setembro de 2007 por moradores do bairro da Terra Firme, periferia de Belém. Congrega brincantes, compositores, percussionistas, dançarinos, cantores e a comunidade em geral. Personagens que vêem na cultura popular uma oportunidade de inclusão social e de criação de novas formas de sociabilidade.

A Terra Firme é hoje conhecida como um dos bairros mais violentos da cidade de Belém. Formado por uma série de ocupações desordenadas, aonde os recursos públicos na maior parte das vezes chegam de maneira precária e insuficiente. Neste contexto o Boi da Terra intervém no bairro de modo a constituir formas alternativas de lazer e ao mesmo tempo estabelecer uma relação de valorização das coisas da comunidade. Tem como objetivo maior mostrar que em contextos desfavoráveis é possível criar coisas belas, aumentar a autoconfiança de populações carentes e ao mesmo tempo, com os poucos recursos que possui, agregar a comunidade em atividades culturais que preguem a cidadania e a inclusão social, sobretudo entre os jovens.


Serviço:
Cortejo junino do Boi da Terra pelas ruas do bairro da Terra Firme.
Todo os os domingos de junho, no Bar da Terra, a partir das 15 horas.
Endereço: pass. N. S. das Graças esquina com pass. Comissário.
Com participação de poetas do Extremo Norte e Bloco da Canalha.
Contatos 8874-1720/3253-8301/8860-8666/81160422